Respiração, espiritualidade e linguagem
Com o termo spiritus, os romanos pretendiam indicar a respiração como uma função fisiológica. Portanto, já há muito tempo, vida, respiração e espiritualidade estão ligados também na linguagem.
Daí os termos e expressões “expirar”, “dar o último suspiro” e assim por diante como formas de fazer referência à morte.
Spiritus, em latim, também significava alma. Então “expirar” e “último suspiro” também equivaliam a entregar a alma a uma outra realidade.
A palavra sânscrita praṇa,por sua vez, se traduz literalmente como “vida”, e também, dependendo docontexto, como “respiração” ou “espírito”.
De acordo com a filosofia indiana, o prana é uma energia ou substância que todos os seres vivos possuem dentro de si e que absorvem pelo ar através da respiração.
De fato, além do mero oxigênio,também absorvemos a “vida” através da respiração. Por esse motivo, de acordocom a medicina chinesa, respirar é equivalente a um nutriente, porque atravésda respiração podemos respirar prana (ki e chi nas filosofiaschinesas e japonesas) e melhorar a saúde.
Em grego, pneuma significa“sopro” e também “alma” ou “espírito”. Daí vem a raiz para termos médicos como“pneumologista”.
Rúaħ, em hebraico, representa o “espírito” entendido como a força vital do indivíduo, também ligada á respiração.
Já o Rūḥ dos muçulmanospode ser o “espírito vital”, o “eu imortal”, ou também foi representado emalgumas ocasiões como um anjo ou mesmo como uma “força vital” capaz de animar oinanimado.
O Seiðr nórdico, também nos cabe mencioná-lo aqui, era um sistema mágico xamânico antigo, principalmente feminino, cujo sentido se enraizava em algo muito semelhante ao mana polinésio, que também faz referência à respiração como algo conectado à força espiritual e vital.
Teyolía, por fim, era um conceito dosantigos astecas que pode ser traduzido literalmente como “o que torna aspessoas vivas” ou “o que faz as pessoas viverem”. Portanto, é entendido como“espírito”.
Assim, vemos que diferentestradições associam respiração, vida e espírito. É um conceito praticamenteuniversal. E isso seria o suficiente para explicar as relações entreespiritualidade e respiração.
No entanto, cabe a nós aquiaprofundar a questão.
A respiração no yoga
No yoga, a respiração executa uma função muito importante. Através dos pranayamas, ou seja, os exercícios respiratórios, direciona o despertar dos chakras, os centros de energia psíquica do ser humano.
Os principais são sete:coronário, pineal ou frontal, faríngeo, cardíaco, abdominal, sexual e básico.
Esse tipo de respiração, embora seja benéfico para todos os centros vitais, permanece na maior parte das vezes incompleto, sem alcançar seu objetivo, devido à incapacidade da maioria dos praticantes de alcançar o centro coronário.
É a partir do coronário que averdadeira iluminação começa.
Portanto, a respiração do yoga é encarada, na maioria dos casos, como mero exercício para a saúde.
No caso dos que conseguem se elevar e praticar de forma séria e assídua, ela começa a promover uma maior abertura dos chakras. Isso leva a um aumento da percepção espiritual, que se torna muito mais intensa e nítida quando a energia começa a abrir o centro coronário.
A iluminação do centro coronário através da kundalini é a base decisiva para o desenvolvimento acelerado e superior da energia mental e espiritual.
Também promove um maior controleda energia física, e o ser humano se torna assim um ser mais integral: épromovida uma harmonia entre corpo-espirito, ou corpo-mente.
No nível fisiológico, sabercontrolar a respiração já é muito importante: todos os atletas, amadores e profissionais,sabem como gerenciar a respiração da melhor maneira possível, com base naintensidade do exercício físico realizado.
O yoga porém estimula opraticante a ir além do exercício voltado à saúde física.
Uma vez que o prana é absorvido pela respiração, essa energia vital entra em nosso corpo e é canalizada para o corpo energético, onde estão os chakras.
Mas se já sabemos que ela cheganos chakras, devemos ainda nos perguntar: como ela faz isso?
Os chakras estão conectados entresi por uma série de canais, chamados nadis. São canais energéticos semelhantesaos meridianos que são estudados pela medicina tradicional chinesa. Juntos,ajudam a promover a circulação da respiração sutil (ou seja, o prana).
Segundo a sabedoria indiana, o prana se divide em cinco espécies de sopros vitais, chamados também de vayu (“vento” em sânscrito).
Os cinco tipos de prana
Os cinco tipos de prana são:
Prana vayu: está localizado entre a cabeça e o coração e sua energia é usada para ações como falar, cantar, rir, mas também lutar, criar e dançar.
Apana vayu: está localizado na área sacral e nos músculos pélvicos. Sua energia flui para baixo, empurrando tudo o que tem que descer nessa direção. Envolve a formação de urina e fezes.
Udana vayu: está localizado próximo à garganta e sua função é a oposta da do Apana vayu. De fato, sua energia flui para cima e serve para expulsar tudo o que é indesejado do corpo, principalmente através da boca e do nariz. Portanto, alimenta ações como espirros, tosse e vômito.
Samana vayu: podemos encontrá-lo na área abdominal, especificamente ao redor do umbigo, e sua energia é usada para assimilar não apenas tudo o que ingerimos, mas também o que sentimos.
Vyana vayu: não possui uma área específica porque sua energia flui livremente por todo o corpo e ajuda a compensar e equilibrar os outros vayu. Sua energia também influencia as ações de relaxamento e contração, bem como o sentido do tato e os sentimentos de repúdio ou aversão.
Respiração e meditação zen
A meditação zen é uma formameditativa ligada ao budismo japonês.
Para nos referirmos a ela, temoso termo Zazen, que é uma palavra composta por outras duas: za(“sentado”) e zen.
Zen é um termo que se originou dosânscrito dhyāna, palavra que significa “contemplação”. O zazen é,portanto, a meditação ou contemplação sentada. E para se chegar à contemplaçãodo que é superior, e encontrar paz e serenidade, utiliza-se a respiração.
A calma e a concentração aqui são alcançadas respirando profundamente e com muita calma.
O praticante se concentra em semanter estável na posição e procura remover as tensões sem se envolver com ospensamentos. A respiração serve como um foco para facilitar a observação dospensamentos sem que eles interfiram na pessoa.
A posição das pernas enquanto seestá sentado varia de acordo com os diferentes estilos e exercícios dameditação zen.
Mas todos têm em comum a atençãona respiração. Sem o foco nela, seria muito mais difícil caminhar para oesvaziamento da mente.
A respiração como alimento para ocorpo e para a alma
A respiração é o começo e o fim.A vida começa com uma inspiração e termina com uma expiração.
A vida é encontrada no coração. É o coração que a contém como fogo. Enquantoque os pulmões são como o fole que anima e estimula esse o fogo.
O fenômeno da respiração pode ser comparado ao da nutrição. O que você faz quando come? Antes de enviar comida para o estômago, ele é mastigado. A boca é como uma pequena cozinha onde os alimentos são preparados: você corta, cozinha, tempera com um pouco de óleo (ou seja, a saliva), e certas glândulas são responsáveis por esse trabalho.
É por isso que é recomendávelmastigar os alimentos por um longo período, até que fiquem quase líquidos.
Se o alimento que chegar aoestômago não foi mastigado o suficiente, o corpo é forçado a gastar muitaenergia para assimilá-lo, e essa é a causa de muitos estados de fadiga.
Não acredite que o cansaço sempreseja consequência de trabalhar demais: não! Muitas vezes ele resulta de umdesperdício de forças.
Você deve saber que, pararealizar o trabalho espiritual em boas condições, é necessário primeirointroduzir harmonia em sua maneira de se alimentar e respirar. As mesmas leisde fato governam os dois processos.
Não é bom respirar rapidamentesem que o ar tenha tempo de ir até os pulmões para enchê-los. Você precisarespirar devagar, profundamente e, de vez em quando, também precisa manter o arnos pulmões por alguns segundos, antes de liberá-lo, para “mastigá-lo”.
Sim, os pulmões podem “mastigar”o ar, assim como a boca pode mastigar alimentos. O ar que aspiramos é como umaporção de nutrientes, cheia de forças novas.
Se for expelido muitorapidamente, os pulmões não podem “cozinhá-lo”, “digeri-lo”, assimilá-losuficientemente para que o organismo possa se beneficiar das forças que elecontém.
É por isso que muitas pessoasvivem cansadas, nervosas, irritadas: não conseguem se “alimentar” adequadamentecom o ar, não o “mastigam”, o expulsam imediatamente. Elas respiram apenas coma parte superior dos pulmões.
A respiração profunda é umexercício magnífico que seria preciso praticar sempre, pois renova as energias.
A respiração profunda é a respiração abdominal.
Se sua respiração não preencheseu abdômen, se é uma respiração curta que só envolve o peito, apenas aspartículas mais grosseiras serão absorvidas.
Se, por outro lado, o ar éenviado para baixo, e é trabalhada a respiração com o diafragma, e o ar émantido por alguns instantes ali, o pulmão começa a funcionar melhor.
Dessa forma começam a serextraídas as partículas etéricas mais sutis, que podem ser enviadas para todo oorganismo.
As células localizadas na parteinferior dos pulmões são projetadas para absorver o ar de uma maneira completamentediferente das encontradas na parte superior.
Portanto, é prejudicial à saúde respirar superficialmente, envolvendo só uma parte dos pulmões. O ser humano precisa de um trabalho integral dos órgãos do seu corpo para evoluir.
O exercício das narinasalternadas
Vamos dar aqui um exemplo de umbom exercício de respiração.
1. Feche bem a narina esquerda einspire profundamente o ar pela narina direita, contando quatro segundos.
2. Prenda a respiração pordezesseis segundos.
3. Feche bem a narina direita eexpire o ar da narina esquerda contando oito vezes.
Passe então ao exercício ao contrário:
1. Mantenha a narina direita bemfechada e inspire o ar pela esquerda contando quatro segundos.
2. Prenda a respiração pordezesseis segundos.
3. Feche a narina esquerda eexpire pela direita contando até oito.
Repita o exercício seis vezes para cada narina.
Quando você começar a fazer esse exercício com facilidade, poderá dobrar o tempo, ou seja, “oito, trinta e dois e dezesseis”, mas não é recomendável ir mais longe sem supervisão.
Na vida de um espiritualista, arespiração desempenha um papel de importância capital e, portanto, é necessárioorganizar o uso do tempo, para que você possa fazer esse e outros exercíciostodas as manhãs, com o estômago vazio.
Após o café da manhã, não é maiso mesmo: os pulmões são prejudicados em seus movimentos e os benefícios não sãotão grandes.
Os exercícios respiratórios devemser realizados preferencialmente com o estômago vazio, ou quatro ou cinco horasdepois de comer.
Respiração e oração
Uma oração acompanhada por umarespiração calma e profunda tem maior eficácia. Respirar conscientementepermite que nos liguemos melhor a Deus. É como se ele nos dissesse: “Respirebem e você ouvirá minha palavra.”
Tenha esta experiência: respirefundo e ore mentalmente. Ou vá alternando as palavras de sua oração com umarespiração densa e profunda.
Para fazer seus exercícios e suasorações, escolha um lugar silencioso onde ninguém possa incomodá-lo, coloque-seem uma posição confortável e respire.
Vamos propor mais um bomexercício que você pode fazer: inspire imaginando que está atraindo luzcósmica, aquela luz infinitamente mais pura e sutil que a luz do sol, aquelaquintessência impecável e invisível que penetra tudo.
Deixe que a luz penetre em vocêpara circular por todas as suas células e todos os seus órgãos.
Então, expirando, faça-a sair devocê, projetandoao para iluminar a realidade ao seu redor e ajudar o mundointeiro.
Este um exercício extraordinário,porque do ponto de vista cabalístico, você se torna a letra Aleph.
Aleph, a primeira letra doalfabeto hebraico, é o símbolo do Ser que recebe a luz celestial com uma mão ea distribui com a outra.
Você não pode “se tornar Aleph”se pensar exclusivamente em si mesmo, em guardar tudo para si. Aleph é o serque pensa apenas em dar, aquecer, iluminar, vivificar, doar. Ele é um criador,um salvador da humanidade, um filho de Deus.
Aqueles que aprendem a respirar conscientemente, iluminam seu intelecto, aquecem seu coração, fortalecem sua vontade, mas também preparam melhores condições para suas futuras encarnações.
De fato, respirando com umaconsciência desperta, o ser humano entra em harmonia com entidades altamenteevoluídas, as atrai, cria um vínculo com elas.
Então, essas inteligências luminosas concordam em trabalhar nele, e um dia, quando ele deixar a Terra, encontrará nos outros mundos aqueles “amigos” com quem já aprendeu a trabalhar.
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